Escola de Educadores
Tecnologia

Educação Midiática e Letramento Digital

21/08/2025

Conceito fundamental na educação contemporânea, o letramento digital refere-se à capacidade de ler, escrever e interagir criticamente em ambientes digitais. Envolve compreender textos multimodais, avaliar informações, navegar em hipertextos e usar as TICs com consciência e propósito. É mais do que operar ferramentas — trata-se de atribuir sentido aos modos de comunicação digital.

No contexto brasileiro, avançar no letramento digital é essencial para que crianças e adolescentes não sejam meros consumidores — e sim criadores críticos, conscientes dos potenciais e riscos do ambiente virtual.

Um episódio fundamental da série "Educação Midiática" aborda o tema do consumo crítico dos conteúdos da internet. Assista.

Educação Midiática no dia a dia: O universo da informação - YouTube

Segurança e Privacidade Online

No ambiente digital, as preocupações com privacidade, segurança e proteção de dados são contínuas. Mesmo em contextos domésticos, muitas crianças e adolescentes acessam a internet sozinhos, e, embora os responsáveis proíbam o fornecimento de dados pessoais (81 %) ou compras online (69 %), a mediação efetiva ainda é desafiadora. 

Estar alerta a riscos como conteúdos ofensivos, discriminação, contato com desconhecidos e publicidade disfarçada é crucial. A mediação ativa com crianças e adolescentes, engajada em diálogo, se mostra mais eficaz do que simples bloqueios técnicos.

 

Habilidades tecnológicas na Indústria 4.0 e a formação para o futuro

A chamada Indústria 4.0 marca a quarta revolução industrial, baseada na digitalização dos processos, no uso da Internet das Coisas (IoT), Inteligência Artificial (IA) e sistemas ciberfísicos. No Brasil, sua implementação ainda enfrenta obstáculos que vão além da infraestrutura produtiva: envolvem também a formação escolar e o desenvolvimento de habilidades digitais desde a educação básica.

 

Desafios do Mercado de Trabalho, no Brasil (pós-2020)

A chegada da Indústria 4.0 trouxe uma série de benefícios e oportunidades, mas o Brasil ainda vive um período de adaptação. O cenário revela contrastes marcantes: enquanto grandes empresas avançam em digitalização, micro e pequenas ainda caminham com cautela. Um relatório do Ministério da Economia e da UFRGS (2022) mostra que muitas delas sequer conseguem visualizar claramente o retorno sobre o investimento em tecnologia, o que atrasa a adoção de processos inovadores.

Outro obstáculo importante é a infraestrutura. Estudos apontam que barreiras econômicas e limitações de conectividade continuam freando o crescimento digital em diferentes regiões do país (V2COM, 2021).

Além disso, a falta de profissionais qualificados em competências digitais acende um alerta. Relatórios da FIRJAN (2021) e da ABDI (2022) reforçam a urgência em preparar trabalhadores capazes de atuar em ambientes de automação avançada. Sem políticas sólidas de formação tecnológica, a competitividade brasileira fica comprometida.

O alto custo de implementação de novas soluções e a escassez de linhas de crédito específicas tornam o cenário ainda mais desafiador, principalmente para pequenos negócios (CNI, 2022).

E com o avanço da digitalização, cresce também uma preocupação inevitável: a cibersegurança. A proteção de dados sensíveis e a construção de regulamentações claras se tornaram prioridades para garantir a confiança nos sistemas conectados (ABDI, 2021).

 

O papel da escola: letramento digital e cultura digital

Se a Indústria 4.0 demanda profissionais preparados, a escola precisa ser o ponto de partida dessa formação. Duas dimensões se destacam:

  • Letramento digital: refere-se à capacidade de ler, interpretar, avaliar criticamente e produzir conteúdos em ambientes digitais. Não se trata apenas de saber usar ferramentas tecnológicas, mas de atribuir sentido, identificar riscos, criar soluções e desenvolver pensamento crítico.

  • Cultura digital: abrange práticas sociais e cognitivas relacionadas ao uso das tecnologias de informação e comunicação. Implica compreender como os recursos digitais impactam a vida cotidiana, a cidadania e o mundo do trabalho.

Essas competências estão previstas na BNCC - Base Nacional Comum Curricular como fundamentais para o desenvolvimento integral dos estudantes, incluindo a habilidade de usar tecnologias de forma ética, responsável e criativa.

Ao integrar o letramento digital e a cultura digital desde o ensino fundamental, o Brasil pode reduzir desigualdades de acesso e garantir que crianças e jovens sejam não apenas consumidores de informação, mas criadores críticos e inovadores, aptos a atuar nos ecossistemas digitais da Indústria 4.0.

Os desafios da Indústria 4.0 no Brasil não são apenas tecnológicos, mas também educacionais. Investir em infraestrutura, capacitação profissional e políticas públicas é essencial, mas sem desenvolver habilidades de letramento e cultura digital desde a escola, o país continuará dependente de soluções externas e com baixa inserção na economia digital global.

A escola, portanto, tem papel estratégico: formar cidadãos digitais conscientes e trabalhadores preparados para um mundo em que a tecnologia é a base da produção e da inovação.

 

Referências